Este texto é uma tradução livre do artigo original “Could Cannabis Be an Effective Treatment for COVID-19?” do site Lab Manager.


Pesquisadores ao redor do mundo estudam a possibilidade do uso da Cannabis para o tratamento ou prevenção da COVID-19, mas os resultados ainda não são suficientemente conclusivos.

A Cannabis Pode Tratar ou Prevenir a COVID-19?
Com o avanço da COVID-19 no mundo, os pesquisadores estudam inúmeras opções para um possível tratamento, incluindo medicamentos existentes. A Cannabis medicinal é uma opção que ganhou muita atenção, mas embora o estudo se mostre promissor, é muito cedo para ser considerado como um tratamento seguro e eficaz.

Estudos Atuais Sobre a Cannabis Como Tratamento à COVID-19
Provavelmente devido às restrições contínuas às pesquisas com Cannabis nos Estados Unidos, ainda não existem estudos no país focando a Cannabis como um possível tratamento ou prevenção para a COVID-19. No entanto, no início deste mês, pesquisadores da Universidade de Miami lançaram um estudo sobre como o novo coronavírus está impactando os usuários americanos de Cannabis durante o pico do surto.

“As condições globais de qualificação para a Cannabis medicinal, embora não uniformes, incluem indivíduos com sistemas imunológicos comprometidos e outras condições crônicas de saúde. Portanto, esta é uma população que não podemos esquecer em nosso esforço conjunto para 'nivelar a curva'”, disse Denise C. Vidot, professora assistente na Escola de Enfermagem e Estudos de Saúde e epidemiologista treinada, em um comunicado à imprensa.

Mais recentemente, uma parceria entre duas empresas de investigação sobre Cannabis (Pathway RX e Swysh Inc.) e a Universidade de Lethbridge, em Alberta, Canadá, levou à descoberta de que certos extratos de Cannabis Sativa poderiam ser usados em tratamentos para prevenir a infecção por SARS-CoV-2, o vírus que causa a COVID-19.

Especificamente, eles descobriram que os extratos têm um efeito na expressão de ACE2 e TMPRSS2, proteínas em células humanas que pesquisas apontam ser um ponto de entrada para o vírus. O estudo acabou de ser apresentado para publicação e aguarda aprovação.

“Embora os nossos extratos mais eficazes exijam uma maior validação em larga escala, o nosso estudo é crucial para a análise futura dos efeitos da Cannabis medicinal na COVID-19”, disseram os cientistas em uma versão anterior da publicação do estudo. “Nosso mais novo extrato de CBD poderá se tornar uma adição segura e útil para o tratamento à COVID-19 como uma terapia adjuvante.”

Eles acrescentam que esse extrato poderia ser usado para fazer gargarejos a fim de prevenir a infecção.

Outro estudo canadense está sendo liderado pela Tetra Bio-Pharma, uma empresa biofarmacêutica envolvida na descoberta e desenvolvimento de medicamentos derivados de canabinoides. De acordo com um comunicado por e-mail, a empresa espera obter financiamento para avançar suas pesquisas no Canadá e nos Estados Unidos. Especificamente, eles vão examinar a molécula ativa em seu remédio canabinoide sintético PPP003, com a esperança de que ele possa reduzir a inflamação e hiperatividade do sistema imunológico que podem causar a sepse, resultando em melhores resultados clínicos.

“Os canabinoides que atuam no receptor CB2 têm mostrado resultados promissores ao reduzir a resposta inflamatória aguda em sepse experimental e alguns deles podem ser úteis para pacientes com SARS-CoV-2”, disse a empresa em sua declaração. “Ensaios clínicos bem concebidos de PPP003 são necessários para provar se esse medicamento pode ajudar a prevenir a progressão dos sintomas das lesões pulmonares agudas e respostas imunitárias elevadas, ambos sintomas apresentados por pacientes após a infecção por SARS-CoV-2.”

Pesquisas semelhantes foram realizadas recentemente em Israel. A InnoCan Pharma Ltd, empresa farmacêutica israelense focada em terapias à base de Cannabis, anunciou no dia 17 de abril uma parceria com a Universidade de Tel Aviv para desenvolver um possível tratamento de terapia celular que usa “exossomas carregados com CBD” para tratar os sintomas da COVID-19. O produto, que a empresa diz que provavelmente será aplicado aos pacientes por inalação, também será testado como um tratamento para outras infecções pulmonares.

“Exossomas são pequenas partículas criadas quando as células-tronco são multiplicadas”, disse InnoCan em uma declaração recente. “Exossomas podem atuar como “mísseis teleguiados”, encontrando órgãos danificados específicos. Eles têm um papel importante na comunicação célula a célula. Quando as propriedades de cicatrização celular dos exossomas são combinadas com as propriedades anti-inflamatórias do CBD, espera-se a obtenção de um efeito sinérgico elevado.”

Também em Israel, a Rede Medicinal de Cannabis relata que pesquisadores do Instituto de tecnologia de Israel e seus parceiros estão trabalhando em dois estudos explorando o uso de uma formulação de terpenos de Cannabis, também administrado por inalação, no tratamento da COVID-19. O primeiro estudo terá foco no efeito das moléculas de Cannabis no sistema imunitário, enquanto o segundo estudo investigará o receptor ACE2 e como o tratamento com terpenos poderia impedir a entrada viral nas células humanas através desta via.

De acordo com um comunicado de imprensa de 19 de abril, outra empresa israelense responsável por pesquisas com Cannabis, a Stero Biotechs, também está prestes a lançar um pequeno ensaio clínico que estudou a eficácia de um tratamento com esteroides CBD em 10 pacientes diagnosticados com COVID-19 no Centro Médico Rabin.

Estudos Anteriores
Esta não é a primeira vez que a Cannabis foi cogitada como uma estratégia de prevenção e tratamento para um coronavírus. Pesquisas anteriores analisaram o efeito da droga na SARS-CoV, o coronavírus que causa síndrome respiratória aguda grave, que causou um surto em 2003. Em um estudo de 2007, pesquisadores da China examinaram as propriedades antivirais da Cannabis contra SARS-CoV.

Eles analisaram 221 fitoelementos, descobrindo que “diterpenoides específicos do tipo abietano e lignoides apresentam bons resultados no combate à SARS-CoV.”

Riscos do Consumo de Cannabis Durante a Pandemia
No entanto, quem pensa que deve aumentar a dose de Cannabis para prevenir ou tratar o coronavírus deve ir com muita calma. Em particular, fumar mais, pode colocar as pessoas em maior risco de infecção, dizem as autoridades de saúde.

“A comunidade de pesquisa deve estar alerta para a possibilidade de que a COVID-19 pode ser muito mais perigosa para indivíduos com vícios em drogas”, diz o Instituto Nacional de Abuso de Drogas dos Estados Unidos em um comunicado. “Porque ataca os pulmões, o coronavírus que causa a COVID-19 pode ser uma ameaça especialmente grave para aqueles que fumam tabaco ou maconha, ou usam vaporizadores.”

Quanto àqueles que se perguntam se os comestíveis ou os óleos de CBD são uma solução mais segura, ainda não há pesquisa o suficiente para provar a eficácia deles também.

Com os estudos em andamento sobre a Cannabis para prevenção e/ou tratamento para a COVID-19 ainda nas fases iniciais, levará algum tempo até termos uma resposta definitiva sobre a verdadeira eficácia e segurança da planta neste caso. Os estudos em Israel acabaram de ser lançados sem datas marcadas para divulgação, e os canadenses ainda procuram parceiros para realizar ensaios clínicos com os seus extratos de Cannabis.

Embora provavelmente seja frustrante para aqueles que querem uma resposta clara agora, serão muitos meses antes de sabermos com certeza se a Cannabis é uma opção segura e eficaz contra a COVID-19.