A maconha é uma porta de entrada para as drogas?

Embora seja considerada uma das drogas menos prejudiciais à saúde, muitas pessoas ainda responsabilizam a maconha como uma porta de entrada para as drogas. Existem argumentos a favor e contra, mas a questão é muito mais sutil do que você imagina.

A maconha é uma porta de entrada para as drogas?

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A maconha é uma porta de entrada para as drogas?

Desde que a maconha se tornou um tópico socialmente relevante, existem protestos contra ela. Algumas pessoas já disseram que era possível ter uma overdose de maconha, já outras alegaram que ela causa leseira permanente. Entre esses e outros argumentos, o que mais gera debate e serve como principal arma para quem não gosta da planta é o da porta de entrada.

Não importa quanta pesquisa tenha sido feita na época, isso foi consolidado como um fato entre uma geração conservadora. A verdade, no entanto, é uma linha muito mais tênue do que parece. Com fatores legislativos, sociais e biológicos entrando em jogo, temos muito o que considerar.

O que é uma porta de entrada?

Se você não acompanha as discussões sobre a maconha ou outras drogas, pode não estar familiarizado com o termo “porta de entrada”. A grosso modo, é a ideia de que usar uma substância psicoativa (como a maconha) fará com que você eventualmente queira experimentar outras mais fortes e perigosas.

Argumentos que sustentam a maconha como porta de entrada

A seguir, vamos expor alguns argumentos a favor dessa teoria. Um dos principais pontos envolve o sistema de recompensa do cérebro e a maneira como a maconha o afeta. Quando alguém começa a consumir maconha, isso pode reeducar o cérebro, fazendo com que ele se acostume com altos picos de dopamina. A partir daí, outras drogas que resultam em picos ainda mais altos podem parecer mais atraentes, então probabilidade de experimentá-las teoricamente aumenta.

Além disso, alguém que compra e usa maconha é mais propenso a conhecer pessoas que usam outras drogas. Por isso, os defensores da teoria da maconha como porta de entrada argumentam que essas pessoas são mais propensas a experimentarem outras drogas mais pesadas. Juntando tudo isso, estatisticamente, pesquisas apontam que 44,7% das pessoas que experimentam maconha acabam usando outras drogas ilícitas no futuro. Não tem como negar que essa é uma quantidade significativa de pessoas, os números não devem ser ignorados.

Pessoa segurando um baseado acesso com um fundo escuro

Argumentos que desmistificam a maconha como porta de entrada

Porém, contudo, entretanto, quem prestar atenção nesse número que acabamos de mostrar, vai perceber algo importante. Embora seja um número significativo, não é a maioria. Para quem se importa com estatísticas, isso significa que 55,3% dos usuários de maconha nunca experimentaram outra substância ilícita. Isso, argumentativamente, é um dado importante.

Na verdade, em vez de levar as pessoas ao uso de outras substâncias, há evidências de que a maconha possa fazer o oposto. Em um estudo, pesquisadores canadenses inferiram que o uso de outras drogas após a maconha tem relação direta com a proibição do uso recreativo da planta. O argumento diz que o fato de a maconha ser proibida é o que a pode tornar uma porta de entrada.

Como muitos precisam comprar de revendedores e fumar em determinados lugares, essas pessoas podem acabar sendo expostas a outras drogas. Basicamente, alguém que conhece um traficante de maconha que vende outras drogas, tem uma probabilidade maior de experimentar essas outras substâncias ilícitas do que alguém que não fuma e, consequentemente, nem conhece o traficante. Se essa pessoa pudesse comprar maconha em um dispensário autorizado e legalizado, ela nunca teria acesso a essas outras substâncias. Nesse cenário, teoricamente, os usuários e não usuários de Cannabis têm igualmente pouca probabilidade de experimentar drogas pesadas.

O contexto faz toda a diferença

Assim como acontece com muitas questões relacionadas ao abuso de drogas, o contexto de cada caso é vital para a discussão. Perceba, por exemplo, que alguém com inclinação genética para vícios que fuma maconha tem muito mais probabilidade de experimentar outras drogas depois. Ou seja, nesse caso específico é essa inclinação que se torna determinante para o uso de drogas pesadas, não exatamente a maconha.

Fatores sociais também são importantes e devem ser considerados. Alguém que nasce em um ambiente propositalmente esquecido e negligenciado, cercado de drogas, terá maior probabilidade de experimentá-las e, na maioria das vezes, por ser mais acessível, a maconha é a primeira. Mesmo assim, isso não quer dizer que as outras drogas foram experimentadas por causa da maconha.

Fumar maconha leva ao uso de outras drogas?

Bem que queríamos que houvesse uma resposta concreta, mas, infelizmente, nesse caso não podemos cravar nada. Mesmo com pesquisas que se posicionam em ambos os lados, não tem como dizer objetivamente se a maconha é ou não é uma porta de entrada. Assim como acontece com qualquer estudo sobre drogas ilícitas, os dados são limitados e as variáveis que causam indefinição são muitas.

Considerando tudo o que foi dito, a única solução é mais estudos e pesquisas. Quando os laboratórios conseguirem obter autorização legal para estudar essas substâncias com maior profundidade, aprenderemos muito mais. Se isso acontecer, no entanto, os pesquisadores têm que levar em conta variáveis como as que mencionamos, como predisposição ao vício e status socioeconômico.

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