Este texto é uma tradução livre do artigo original “Man Serving 90-Year Weed Crime Sentence Released From Prison” do site The Weed Blog.



Na terça-feira, 8 de dezembro, Richard DeLisi saiu da prisão de South Bay depois de cumprir 31 longos anos.

Enquanto esse senhor de 71 anos esteve preso, sua esposa morreu, seu filho teve uma overdose e sua filha ficou paralisada em um acidente de carro brutal. Uma vida destruída e uma família desfeita, tudo por causa de uma condenação de Cannabis grosseiramente inflacionada.

O Mais Antigo Prisioneiro Não Violento de Cannabis
Em setembro de 1988, Richard foi pego em uma operação de tocaia reversa liderada pelo Departamento de Polícia da Flórida, com ajuda de inúmeras outras agências. Ao concordar em ajudar a contrabandear cerca de 700 quilos de Cannabis da Colômbia para a Flórida, ele foi preso e acusado de tráfico e conspiração de tráfico de Cannabis.

As leis geralmente recomendam penas de 12 a 17 anos de prisão para crimes dessa natureza, mas o juiz Dennis Maloney optou por uma escalada extrema na sentença. Ele deu a DeLisi três sentenças consecutivas de 30 anos, resultando em 90 anos de reclusão. O raciocínio do juiz foi baseado numa crença infundada de que Richard, junto com seu irmão, era líder de um sindicato criminoso maior. Apesar das manchetes sensacionalistas e dos rumores forjados, Richard não tinha histórico de violência, nem jamais tinha sido acusado de cometer um ato de violência.

Enquanto seu irmão foi libertado da prisão anos mais tarde, Richard experimentou mais de três décadas de encarceramento. Entrando na prisão com o mais alto nível de classificação (comparável à segurança máxima), DeLisi teve que enfrentar as adversidades, mas optou por se comprometer com a educação e estudo.

Na prisão, DeLisi superou sua grave dislexia para aprender a ler e escrever. Ele completou dezenas de aulas de autoaperfeiçoamento que variavam de abuso de substâncias a cursos de treinamento qualificados — tudo enquanto suportava o peso de extrema tragédia pessoal. Tudo começou em 2010, quando o Filho do Richard morreu de overdose de comprimidos. Apenas dois anos antes, ele havia escrito para o Conselho de Clemência, afirmando o quanto ele precisava da presença e orientação de seu pai. Nos meses seguintes, a esposa de Richard também faleceu por complicações com medicamentos sujeitos a receita médica. Richard experimentou o luto em dobro, chegando até a implorar por clemência para que pudesse ficar com sua filha. Era como se ele tivesse um mau pressentimento. Anos depois, sua filha se envolveu em um acidente de carro, ficando parcialmente paralisada e de cadeira de rodas.

Apesar da perda pessoal devastadora e do trauma emocional, Richard continuou sua jornada rumo ao estudo. Enquanto isso, forças fora das muralhas da Penitenciária de South Bay estavam trabalhando para trazer a justiça.

Libertem DeLisi, Projeto Último Prisioneiro e A Defesa
Nas duas décadas seguintes à prisão de DeLisi, sua família gastou mais de 250 mil dólares em honorários de advogados e mais de 80 mil dólares em chamadas de longa distância para conseguir a liberdade de Richard. Enquanto esses esforços fracassaram, os direitos à Cannabis e os movimentos de policiamento de drogas se cruzaram com o caso de DeLisi, e a injustiça incorporada em sua convicção foi sistematicamente citada nos últimos anos.

Libertem DeLisi e o Projeto Último Prisioneiro, ambos foram criados com base nessa sentença. A maior preocupação é o estado atual das prisões com a COVID-19. Para começar, mais de trinta anos em um ambiente insalubre com maus cuidados à saúde e uma dieta prisional resultaram na manifestação de condições pré-existentes em Richard:
Asma;
Hipertensão;
Colesterol Alto;
Artrite;
Doença Degenerativa do Disco.

Adicione essas doenças aos números alarmantes de COVID nas prisões americanas, e o resultado é um desastre. De acordo com um estudo de John Hopkins e da Universidade da Califórnia em Los Angeles, as pessoas nas prisões têm cinco vezes mais probabilidade de serem infectadas e três vezes mais probabilidade de morrer de COVID-19 do que a população, em geral. Cada dia de Richard na prisão era um dia em que sua vida estava em risco.

Mas além das preocupações de saúde associadas à prisão de Richard, estava a lista de razões pelas quais permanecer atrás das grades seria uma injustiça inata em seu caso. Mais de 30% da nação vive em algum lugar onde o uso adulto de maconha é legal. A Flórida, onde Richard esteve preso por 31 anos, legalizou a maconha medicinal em 2016 e vendeu cerca de 900 milhões de dólares em produtos canábicos em 2020. Ou seja, enquanto o estado lucrava com a receita fiscal da maconha, os contribuintes pagavam do próprio bolso para prender DeLisi. Isto é, até uma revisão recente do seu caso, quando o seu alvará de soltura foi definido para junho de 2022, e então novamente para o começo de dezembro.

A Saída de Richard DeLisi e Sua Estrada a Frente
“Perdi tantos momentos importantes,” refletiu Richard enquanto caminhava deixando para trás a Prisão de South Bay.

Depois de conhecer suas duas netas e comer seu hambúrguer favorito, DeLisi continuou, “Eu sou um ser humano abençoado, um sobrevivente”. Richard planeja continuar envolvido com a luta contra o encarceramento relacionado à Cannabis, afirmando que “foi injusto o que eles fizeram comigo. Só espero poder ajudar outras pessoas que estão na mesma situação […] o sistema precisa mudar, e eu vou fazer meu melhor como ativista”.

Seja qual for a luta que o Richard tenha pela frente, a dor decorrente da sua prisão permanece. Rick DeLisi, o último filho homem sobrevivente de Richard, tinha apenas 11 anos quando seu pai foi preso. Desde então, ele viu o irmão e a mãe morrerem e a irmã acabando paralisada. Depois de se mudar para mais de 6 mil quilômetros para escapar do trauma, Rick ficou com os olhos lacrimejando com a libertação de seu pai.

“Não acredito que fizeram isso com meu pai. Não acredito que fizeram isso com a minha família”, lamentou Rick, “fica um sentimento de quem é o responsável por esta dívida na minha mente, e justiça […] Não tô falando de dinheiro. Tô falando de uma coisa mais valiosa. Tempo. Coisa que nunca dá pra recuperar.”