Que a maconha é capaz de aliviar dores a maioria das pessoas já sabem, mas você já parou para pensar no porquê disso?

Imaginário Geral
Sempre que pensamos sobre como a Cannabis afeta o cérebro, consideramos só seus efeitos nos neurônios dopaminérgicos no sistema nervoso central. E por que não? Afinal é lá que a maior parte da mágica da maconha acontece. Mas há muito mais, como a propensão bioquímica de canabinóides exógenos e os receptores em que eles atuam. Pesquisadores estão estudando o uso de canabinóides contra a dor e consideram este como um tópico muito interessante e abrangente.

De fato, a Cannabis pode aliviar a dor em seus efeitos práticos, mas, fica no ar a pergunta: a dor reduz de fato ou a percepção geral do usuário que é diminuída? Perguntas sobre canabinóides contra a dor como essas são exploradas mais a fundo em um artigo do cientista alemão Jörn Lötsch publicado no European Journal of Pain. Esta postagem busca tanger apenas um resumo da vasta gama de informações presentes no artigo, apenas para que seja possível entender o papel da Cannabis na saúde e na sociedade moderna.

Indo Mais a Fundo
Nosso sistema nervoso pode ser dividido em dois componentes principais: o sistema nervoso central (SNC) e o sistema nervoso periférico (SNP). O SNC é composto pelo cérebro e medula espinhal; enquanto que o SNP compreende todos os outros nervos do corpo que recebem estímulos que são enviados ao cérebro. Os receptores canabinóides (CB-1 e CB-2) agem em todo o nosso corpo; só que diferentes regiões têm concentrações maiores do que outras.

Apesar de associarmos todas as nossas interações com canabinóides ao CB-1, o processo neural da dor é um dos que necessitam dos dois receptores. Há muitos subsistemas em nosso cérebro feitos de diferentes tipos de células. Os circuitos neuronais responsáveis pela sensação de dor são conhecidos como nociceptores. Eles que transmitem os sinais de dor ao cérebro. E eles existem em ambos os sistemas nervosos: central e periférico.

O Papel dos Neurônios Nociceptores
Embora a dor seja um processo complexo em nossos corpos, podemos tentar resumi-los à atividade dos neurônios nociceptores. Porque quando eles estão ativos, sentimos a sensação de dor. Assim, sua atividade (número de sinapses por segundo) é diretamente proporcional à quantidade de dor que sentimos. Se conseguirmos modular suas atividades, podemos modular a dor.

A ativação do CB-1 com o uso de canabinóides possibilita à inibição dos neurônios que estão ligados a eles, mas isso pode, às vezes, impactar diretamente no fluxo de informações que chegam ao cérebro do usuário. No caso dos nociceptores, que geralmente são neurônios glutamatérgicos (excitatórios, que manifestam glutamato), a ativação do CB-1 inibirá sua atividade.

O artigo publicado na revista Science concluiu que a ativação do CB-1 nos nociceptores glutamatérgicos e sua subsequente inibição são as principais causas da redução da dor.

Porém, essa é apenas uma teoria do porquê da redução direta da dor, mas há outras abordagens para analisar esse resultado.

A Dor e sua Percepção
Se a dor é algo que sentimos e percebemos, então ela está relacionada diretamente à estrutura e funções dos nossos cérebros. Portanto, os dois componentes que compõem a dor são: o sinal de dor (nós nos ferindo) e a percepção da dor em si.

Os Efeitos na Memória e Cognição Geral
Se lembra de quando dissemos que o CB-1 pode ativar outros circuitos que podem afetar o cognitivo? Então, isso é exatamente o que acontece com o nosso hipocampo, parte do cérebro geralmente conhecida pela formação de memórias. Enquanto que o glutamato é um sinal excitatório, o ácido gama-aminobutírico (GABA) é um sinal inibitório. A inibição mediada por canabinóides dos neurônios "GABAérgicos" no hipocampo leva a alterações em nossa memória de estímulos aversivos, conforme descrito por Jimok Kim e Bradley Alger na revista Nature Neuroscience.

Isso pode levar ao que outro grupo de cientistas (Marsiacano et al., Nature, 2002) propuseram: uma ativação direta de redes inibitórias pode levar ao esquecimento de memórias aversivas, como, por exemplo, de medo. Ou seja, a maconha não afeta as nossas memórias genericamente como é popularmente dito, mas sim, apaga especificamente lembranças ruins. Ah... a boa e velha Cannabis nos ajudando a esquecer as "fita" cabulosa.

Por mais extensa que seja a pesquisa sobre canabinóides para o controle da dor, ela ainda abrange apenas metade dos receptores em nosso corpo. O CB-2 é amplamente estimulado no SNC e no SNP, com implicações específicas para a atividade imunológica. A "promiscuidade" do CB-2 em nossas redes neurais pode ser o motivo pelo qual sentimos tantos efeitos psicoativos a partir do CB-2. Isso tudo nos faz concluir que o campo da medicina relacionado à Cannabis é muito vasto e que ainda há muitas pesquisas para serem conduzidas a respeito. Continue ligado no nosso King Blog para mais estudos, curiosidades e pesquisas sobre o assunto!